Não fui muitas vezes, mas é essa a lembrança que ficou das matinês de domingo à tarde no Cine São Joaquim. Quase sempre para assistir Tarzã. Na juventude fui algumas vezes, mas a sensação já era outra, embora a música de abertura, a cortina, a tela, as poltronas e o chão de madeira continuassem os mesmos.
Dessa época me recordo da experiência do cine-clube, uma tentativa heroica e desesperada de salvar o cinema do inevitável fechamento. Universitários, professores e a elite intelectual da época se uniram e contribuíam com um valor mensal para manter o cinema, com direito a sessões seguidas de debate às sextas-feiras. O primeiro filme exibido pelo cine-clube foi Z, do Costa Gavras, isso lá pelos idos de 1982 ou 1983.
Pouco tempo depois, quando já havia me mudado para Nova Odessa, o Cine São Joaquim fechou e o prédio abrigou um templo de uma igreja pentecostal. Final infeliz de mais uma sala de projeção que não resistiu ao advento do vídeo-cassete.
Felizmente, duas décadas depois, o cinema seria reaberto, por iniciativa do empresário Acácio Cruz, agora com o nome de Cine Teatro Lúmine. A antiga sala, com mais de mil poltronas, deu origem a duas: uma para o teatro outra para o cinema. Mas perdeu o encanto. Nem a música toca mais.
Também não me encantam as salas de cinema de shopping center. São apenas um apêndice desse templo dedicado ao consumismo. Me contento em assistir a bons filmes em casa mesmo, projetando na parede da sala. Foi assim que assisti, junto com a Marilda, o filme “Amor Além da Vida”.
Vivíamos um momento de crise em nossas vidas, de dificuldade de aceitação de algumas situações. Eu, convicto de minhas posições, delas não abria mão e não entendia porque a Marilda se recusava a aceitar o que era óbvio e claro como a luz do dia. Daí resultavam os conflitos que, pouco a pouco, foram minando nossa vida comum.
Quando assistimos ao filme, juntos, um novo horizonte descortinou à minha frente. Na película, Robin Williams interpreta Chris Nielsen, que forma uma família feliz com sua esposa Annie e os filhos. Tudo começa a mudar quando os filhos morrem num acidente. Vem a dor, o sofrimento e a superação do trauma. Até que o próprio Chris morre num acidente.
No paraíso, ele fica sabendo que Annie, tomada pela dor, cometera suicídio. E vai até o inferno procurá-la, mesmo avisado de que ela não o reconheceria. Mais do que ir até o inferno, ele decide lá ficar com Annie que, de fato, não o reconhecera nem se dispunha a deixar aquele lugar. O amor incondicional de Chris fez com que ele abrisse mão da eternidade no paraíso para ficar ao lado da pessoa amada, no inferno e sem ser por ela reconhecido.
Aprendi que é assim na nossa vida. Precisamos mergulhar no “inferno” vivido pela pessoa amada para entendê-la e ajudá-la nas dificuldades. E quando temos essa capacidade, esse despojamento, esse amor verdadeiro transforma o inferno em paraíso. Graças ao que aprendemos no filme, Marilda e eu já superamos várias crises. E acrisolamos nosso amor com o fogo das profundezas dos “infernos”. A cada dia construímos nosso paraíso. Te amo, Linda.
(Publicado originalmente no Facebook em 25 de agosto de 2013)
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