quinta-feira, 16 de junho de 2016

No meio do povo

Frei Carlos com noviços capuchinhos, no México
Amizade não se explica. Ela simplesmente existe. Verdade também inexplicável essa mensagem que recebi hoje da minha amiga Mariangela Sampaio

No mesmo final de semana em que me casei, meu amigo frei Carlos iniciava seu noviciado no Convento Sagrado Coração de Jesus, em Piracicaba. Um ano de experiência intensa de iniciação à vida religiosa na ordem dos frades menores. 

Um ano depois, dia 10 de janeiro de 1988, uma semana antes de meu primeiro aniversário de casamento, frei Carlos concluía seu noviciado e fazia seus votos temporários de pobreza, obediência e castidade. 

Chegamos ao Convento naquele domingo de manhã quando a missa já tinha começado. Os novos freis já estavam todos no presbitério ostentando o singelo hábito marrom. A Marilda nunca tinha visto o Carlos, mas quando bateu o olho naqueles jovens que rodeavam o altar não teve dúvidas, apontou-o e entre lágrimas de emoção me disse: é ele! 

Nascia ali uma amizade inexplicável. Uma amizade que parecia (e ainda parece) existir desde sempre. Nossos encontros se intensificaram. Íamos sempre a Nova Veneza e depois a Piracicaba e o Carlos passava sempre em nossa casa. Estreitamos os laços de amizade e de fraternidade. 

Em 12 de outubro de 1991, na comemoração da padroeira do Brasil, frei Carlos fez sua profissão perpétua numa celebração recheada de muita emoção. No interrogatório das intenções do novo frade, o provincial da época, frei Ismael Martignago, deixando de lado o “script”, dirigia perguntas capciosas que induziam a uma (con)fusão da vida religiosa com militância político-social. Iluminado pelo Espírito, Carlos respondia a cada questão de forma simples e direta e… cantando. Inesquecível. 

Jovem e jovial, aos 29 anos, já demonstrava uma fé madura comprometida, uma convicção pura e contagiante de sua vocação, uma paixão louca pelo carisma franciscano e, portanto, evangélico.

Frei Carlos foi ordenado padre, trabalhou na promoção vocacional dos freis capuchinhos e abraçou as missões populares, um jeito novo de evangelizar no mundo de hoje, “no meio do povo e com o povo e a partir de sua realidade, de seus anseios e clamores”. A missão o conduziu a viver o carisma franciscano no México, onde aparece nesta foto entre noviços capuchinhos. 

Entre uma missão e outra sempre reservou um tempo para passar por Nova Odessa ou Penápolis, para um bate-papo, um abraço, amenizar a saudade. E para celebrar o Batismo de nossos três filhos: Francisco, Pedro (do qual é padrinho) e João Carlos

Amizade é assim: apenas existe e não se explica.

(Publicado originalmente no Facebook em 03/05/2012)

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