segunda-feira, 6 de junho de 2016

Toninho e Doniseti


Dupla inesquecível para Nova Odessa e região. Dois grandes talentos que se uniram para fazer algo que gostavam muito: cantar e levar alegria às pessoas em seus shows e festas-baile. 

Com persistência, garra, fé, buscavam sempre se aprimorar e, com a ajuda de muitos amigos, batalharam pelo sonho de gravar um disco. Gravaram. Mas o trágico destino impediu o Doni de ver o resultado desse sonho. 

Em viagem de férias, em novembro de 1995, foi tragado pelas ondas na praia das Pitangueiras, no Guarujá. Tinha acabado de chegar no trabalho, no Sindicato da Construção Civil de Campinas, quando a Marilda me ligou avisando da tragédia. Atônito, com um grande vazio no peito, voltei para Nova Odessa no mesmo instante.

Junto com centenas de fãs e amigos, passamos aquela tarde no salão da igreja Nossa Senhora das Dores. A esperança era de que ele entrasse caminhando pelo corredor central, violão em punho, com seu largo e característico sorriso, e iniciasse mais um de seus shows.

O mesmo largo sorriso que trouxe estampado no rosto no dia em que saiu do estúdio e passou em minha casa, na hora do almoço, feliz da vida, com uma fita cassete na mão, para mostrar a primeira prova do disco que estava sendo produzido. 

Essa irracional esperança, porém, acabou quando seu corpo entrou no salão, inerte dentro de uma urna funerária. Sua morte prematura deixou a cidade consternada. 

Para além do talento musical, Doni representou muito para mim pela pessoa humana extraordinária que foi, amigo, companheiro de todas as horas, sonhador dos mesmos sonhos. 

Militamos juntos no Partido dos Trabalhadores, pelo qual elegeu-se vereador em 1992. E juntos planejamos e realizamos algumas ações do mandato, como o Natal sem Fome, edição local da campanha nacional proposta pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e sua ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.

A campanha culminou com um show da dupla Toninho e Doniseti no Campo do Progresso, onde arrecadamos mais de duas toneladas de alimentos que foram distribuídos à parcela da população mais vulnerável da cidade. 

Muita gente ajudou naquele dia. Mas o trabalho anterior, de preparação, foi quase solitário. Saíamos todas as manhãs, ele pilotando e eu na garupa de uma moto emprestada pelo Beto Freire, visitando escolas, indústrias, divulgando e pedindo apoio.

E à noite, reuniões intermináveis para conciliar interesses e expectativas das várias instituições que atuavam na assistência às famílias empobrecidas pela recessão, o desemprego e o arrocho salarial decorrentes da política econômica dos governos Collor de Melo e Itamar Franco/FHC.

Essa e outras ações do mandato, aliadas à sua enorme popularidade de artista, o credenciavam naquele momento para concorrer à Prefeitura em 1996, com grandes chances de derrotar os caciques da política local. A cada vez que eu lhe dizia isso, entretanto, ele sorria incrédulo.

A falta de apoio partidário e a inocente ingenuidade política o fizeram presa fácil do então presidente da Câmara, que pretendia disputar a Prefeitura e, não o querendo como adversário, trabalhou para tê-lo como parceiro de chapa. Assediado por vários meses, Doni só sacramentou a decisão de trocar o PT pelo PSDB depois que lhe garanti que isso não afetaria nossa amizade.

Quis o destino, ou a Providência Divina, que ele nem chegasse a esquentar o ninho tucano. A trágica morte preservou sua integridade ética e moral, sua pureza política. E o eternizou por aquilo que de fato amava e realizava com a alma: a música.

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