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Odorico Paraguaçu, Dirceu Borboleta e Zeca Diabo |
O comunista Dias Gomes, autor do folhetim, deu trabalho aos censores do regime militar, que acabaram tesourando 37 dos 178 capítulos da novela.
Nessa época ainda morava no sítio onde nem energia elétrica existia. Só fui assistir "O Bem Amado" quatro anos depois, já morando na cidade, quando a novela foi reapresentada no mesmo horário das dez.
Na verdade não assisti. Devido às cenas "picantes" do prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, com as irmãs cajazeiras, era considerada imprópria para meus 12 anos de idade. Então eu tinha que me contentar em espiar pela fresta da porta do quarto, sem que meus pais percebessem.
Odorico Paraguaçu foi interpretado de forma espetacular por Paulo Gracindo. Com o personagem, um prefeito corrupto e populista, Dias Gomes satirizava o coronelismo que sempre existiu na política brasileira (e ainda existe) e ao mesmo tempo as arbitrariedades da ditadura militar.
Demagogo e dono de uma oratória que se pretendia rebuscada, cheia de neologismos, Odorico virou prefeito com a promessa de construção do cemitério da cidade. Lembrei dele dias atrás quando, numa entrevista ao vivo no Bom Dia RJ, um estudante lascou um "primeiramente, Fora Temer". É que nos seus discursos, Odorico sempre proferia um primeiramente, seguido de um segundamente e até de um terceiramente.
Mas meu ídolo na novela não era o coronel Odorico. Era Zeca Diabo, interpretado pelo grande Lima Duarte, devoto do “Santo Padim Pade Ciço Romão Batista”. Pistoleiro temido pelo povo de Sucupira, foi contratado pelo prefeito que estava com dificuldades para inaugurar o cemitério.
Algum tempo atrás vi uma entrevista com o Lima Duarte onde ele contou que o seu papel na novela era só uma ponta, devia durar poucos capítulos. Mas sua interpretação agradou em cheio ao público e se tornou central na trama. Lima Duarte, certamente, é dos atores destinados ao protagonismo.
No grande espetáculo da vida, há atores que foram talhados para serem protagonistas. Se lhe dão um papel secundário não se queixam nem se revoltam e, como Lima Duarte, logo assumem o protagonismo na trama.
No grande espetáculo da vida, há atores que foram talhados para serem protagonistas. Se lhe dão um papel secundário não se queixam nem se revoltam e, como Lima Duarte, logo assumem o protagonismo na trama.
Muitas vezes nem estão interpretando, estão incógnitos na platéia, só assistindo. E o diretor da peça logo percebe, convida-os para o palco e então, mesmo sem ensaio, brilham. Porque foram talhados para o protagonismo.
E há atores que nunca passarão de coadjuvantes. E se assumirem com dedicação esse papel contribuirão para que o espetáculo seja perfeito. Há coadjuvantes, porém, que lançam mão de artifícios para usurpar o papel principal. Fazem feio e transformam o espetáculo num fiasco.
Qual o seu papel nesse espetáculo?
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