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Composição da Fepasa, na estação de Bauru |
Em época de festas ou feriados prolongados era quase impossível embarcar, pois os vagões já vinham lotados. Aí o jeito era achar um cantinho para se encostar e viajar de pé. Teve uma vez que fui obrigado a pular a janela para conseguir embarcar, tão grande era o número de passageiros que se aboletavam na escada do vagão.
Chegava na estação de Bauru, retratada nesta foto, por volta das 6 da manhã, onde fazia baldeação para chegar a Penápolis às 9h20 no trem da Noroeste. Era assim a maioria das minhas viagens a Penápolis. A opção pelo trem ocorria por uma questão de economia, mas também porque nem sempre conseguia uma passagem de ônibus de última hora.
Foi assim a minha viagem na madrugada de 30 de dezembro de 1985. Mas dessa vez não me incomodei com o desconforto de passar a noite acordado e de pé. Afinal, ia passar as festas de Ano Novo com minha afilhada e meus compadres.
Cheguei de manhãzinha em Penápolis e fui direto para a casa da Marilda e do Gilson, nos fundos da Pizzaria Roda Viva. Não entendia por que, mas tinha verdadeira adoração pela Juliana, uma linda e travessa bebê de oito meses. Amava-a até mais que aos meus sobrinhos, embora estivesse distante 400 quilômetros e só acompanhasse seu crescimento e desenvolvimento pelas cartas de minha comadre Marilda.
Então aquele 30 de dezembro foi especial porque pude passar o dia com minha princesinha. E também conversar bastante com minha melhor amiga e confidente que se mostrou surpresa com a notícia de que eu estava namorando uma garota em Americana.
O Gilson trabalhava na Copebel, o depósito da Antarctica, e mesmo com a correria das vendas e entregas de bebidas do final de ano, veio almoçar conosco. Chegou trazendo uma caixa de bebidas para a festa do reveillon e logo após o almoço retornou ao trabalho.
No final do dia, sentados no chão da sala e assistindo TV, esperávamos o Gilson para o jantar. Foi quando o Pedro Campos apareceu na porta da casa. Me cumprimentou efusivamente e, dirigindo-se à Marilda, perguntou pelo Gilson. Ela explicou que estávamos esperando que ele chegasse do trabalho para o jantar.
"Ele tem apelido?", insistiu o Pedro. "Tem, é Palhinha", respondeu a Marilda. "Palhinha, né!", resmungou o Pedro, coçando a barba e acrescentando, de sopetão: "João, vem aqui comigo que o dr. Pentagna quer lhe conhecer".
Achei aquilo meio esquisito, mas como o Pedro era esquisito... Ergui-me do chão e o acompanhei. Ao chegar à frente da pizzaria o Pedro sussurrou: "João, o Gilson sofreu um acidente de carro e parece que faleceu. Precisamos fazer o reconhecimento do corpo".
Mal completou a frase e foi interrompido pela Marilda que, nervosa e em prantos, questionava o que tinha acontecido com o Gilson. Sua forte intuição levou à desconfiança daquela visita fora de hora e de propósito do patrão.
Fiquei completamente atordoado. Saí de Nova Odessa na noite anterior cheio de alegria para festejar o início de um novo ano com pessoas queridas e agora estava ali, antes de acabar o ano velho, com a missão de identificar o corpo do Gilson e sem poder ainda dizer à Marilda o que tinha acontecido.
Deixamos a Marilda na casa da Marina e nos dirigimos à Santa Casa de Penápolis, onde o Cláudio Stevanato, gerente da Copebel, nos confirmou a trágica notícia: cinco funcionários da empresa, entre eles o Gilson, se dirigiam à matriz, na cidade de Lins, para levar a movimentação do dia quando o carro bateu frontalmente com outro veículo, na rodovia Arnaldo Covolan.
Uma "brincadeira", um racha entre o filho de um usineiro e o filho de um pecuarista ceifou a vida de cinco jovens, deixou a Marilda viúva e a Juliana orfã, transformando em tragédia o que seria uma alegre festa de reveillon.
(Publicado originalmente no Facebook em 09/03/12)
(Publicado originalmente no Facebook em 09/03/12)
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