segunda-feira, 30 de maio de 2016

Vida de cruz sem crucificação da vida

Graça, simpatia e beleza
Igreja: Carisma e Poder foi o livro de maior repercussão do teólogo Leonardo Boff. Os ensaios de eclesiologia ali contidos causaram grande polêmica e lhe renderam o silêncio obsequioso imposto pelo Vaticano, leia-se Cardeal Ratzinger. 

A punição só veio corroborar o que Leonardo dizia nos seus escritos: a forma de organização interna da Igreja revela uma instituição centralizadora, autoritária e machista. Assim continua até hoje, aliás um pouco pior com a ascensão de Ratzinger ao papado. 

Mas para mim esse não foi o livro mais importante do grande teólogo brasileiro. Paixão de Cristo, Paixão do mundo foi a obra boffiana que mais me tocou e me ajudou a superar algumas crises existenciais e afetivas, quando deixei Penápolis e me mudei para Nova Odessa. 

Aprendi que o sofrimento é inerente à nossa limitada condição humana e que o importante é não permitir que ele crucifique nossa vida. Antes, devemos fazer do sofrimento uma semente de libertação. 

Partilhava isso em cada carta enviada à minha comadre Marilda, lá nos idos de 1985, buscando ajudá-la a também superar suas dificuldades e crises no trabalho, na família, no casamento e, sobretudo, o sofrimento que lhe representava deixar a Juliana, ainda bebezinha, para trabalhar e estudar. 

Foi assim que, apesar da distância, cultivamos nossa amizade: com respeito, solidariedade e ajuda mútuas, um não deixando que o outro fraquejasse, um evitando que o outro tivesse sua vida crucificada pelas dores do cotidiano. 

Mas o que de fato cimentou nossa relação fraterna foi o nascimento da Juliana. Eu já a amara desde que fiquei sabendo de sua concepção, esperei pela sua chegada como se eu próprio fosse o pai. 

Só a conheci pessoalmente no seu batizado, aos três meses. Mas já tinha me apaixonado pela sua graça, simpatia e beleza revelada nas fotos que a Marilda me enviava todos os meses e que aparecem nesta foto-montagem. 

Enquanto apreciava essas fotos, durante horas a fio, sentia uma revolução dentro de mim, uma alegria indizível... Era como um bálsamo a aplacar as dores do cotidiano.

(Publicado originalmente no Facebook em 07/03/12)

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