segunda-feira, 23 de maio de 2016

Nasce uma paixão

Carteira funcional do Diário de Americana
Minha passagem pelo Jornal Interior, além do aprendizado, foi marcada pelo que meu amigo João Luis dos Santos chama de agenda positiva. Ao longo de meses produzi matérias especiais sobre o trabalho das entidades assistenciais de Penápolis, destacando a diferença que a ação de voluntários fazia na vida de muitas pessoas. 

Lar Vicentino, Casa Anjo da Guarda, SOS, Auta de Souza, Casa da Sopa, HE, Oficina Santa Isabel... Todas as entidades da época foram retratadas nessa série de reportagens especiais. Retratadas apenas com palavras, pois naquela época não tínhamos ainda as facilidades das câmeras digitais nem da impressão offset. Estampar uma foto no jornal dependia de um clichê, que só erá produzido em Rio Preto e custava os olhos da cara. 

Outra série de matérias especiais, produzidas para uma edição especial de aniversário da cidade, trouxe entrevistas com todos os ex-prefeitos vivos na época: Joaquim Veiga Araújo, Nagib Sabino, Dirceu Gastão dos Santos Peters, Jandira Trench e Edson Geraissate. 

No Diário de Americana a história foi diferente. Ali tomei contato direto com os conflitos sociais e de classe. Já nos primeiros meses de trabalho cobri diversas greves do setor têxtil, nas empresas Distral, Fiobra, Toyobo e Sandin Rosada, entre outras. 

Os trabalhadores têxteis de Americana reagiam aos baixos salários e más condições de trabalho deflagrando paralisações por conta própria, sem recorrer ao sindicato da categoria que encontrava-se acomodado no assistencialismo. Dirceu de Leão e Hermine Demmer eram os dirigentes do sindicato na época, considerados pelegos pela oposição sindical têxtil. 

Lembro-me de forma especial da greve da Toyobo, onde a repressão policial foi intensa. Tenente Crivelaro (hoje capitão e vereador em Americana) e Sargento Eduardo comandavam as ações de repressão. Minha presença como repórter do Diário, junto com o fotógrafo Vitinho, servia de escudo aos grevistas. Enquanto permanecíamos na frente da fábrica, nenhuma violência policial se consumava, pois as lentes da Nikkon empunhada pelo Vitinho estavam sempre prontas para registrar as arbitrariedades. 

Me incomodavam muito as limitações que nos eram impostas. Muitos textos eram “tesourados” para não contrariar interesses de parceiros comerciais e políticos do jornal. Era preciso habilidade para ser fiel aos fatos e driblar a autocensura do jornal. Essa situação me levava a sonhar com o exercício do jornalismo popular tão logo concluísse a faculdade de Comunicação Social. 

Me aproximei e acompanhei de perto várias ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra na região de Americana e Campinas, dos sem teto… Mas acabei me identificando mesmo com o jornalismo sindical, ao qual dediquei bons anos de minha vida.

(Publicado originalmente no Facebook em 27/02/12)

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