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Quando lá cheguei recebi a notícia de que seria incorporado à turma do primeiro semestre. Já era quase o mês de março, além de adiantar um semestre ainda "ganharia" um mês de instrução.
Só depois de aceitar a "proposta" é que pude entender o motivo de ser chamado para o serviço militar fora de época. "Teve um atirador que se envolveu com movimento político e, por isso, foi desligado", explicou o sargento Dib Salomão. "Espero que você não jogue fora essa oportunidade, fique longe disso", acrescentou.
Gelei. Imaginei que tinha sido escolhido a dedo, exatamente pela proximidade com o amigo João Luis. Mas era mera coincidência. Cada atirador tinha um nome de guerra estampado na farda, geralmente o sobrenome. Mas como já havia um Santos na tropa (o João Marcelino), João Luis ficou com o nome de guerra João.
Quando foi desligado do TG, seu substituto precisava ter o mesmo nome e eu fui o escolhido. Usei a mesma farda com o coturno 42 apertando meus pés 43 por vários dias, até que consegui trocá-lo.
Meu grande parceiro no TG foi o atirador Alves, meu amigo "Talo". Foi um tempo duro, porém de grande aprendizado para a vida. Levantava às 4 da manhã, seguia para a instrução até por volta das 8h, voltava para casa e ia para o trabalho depois de tomar um banho e um lanche. À noite, faculdade até as 23h.
Minha condição de universitário proporcionou algumas regalias: fui escolhido monitor e sempre era convocado pelo sargento para redigir textos sobre eventos do TG, enquanto os demais atiradores ralavam na instrução.
Nessa época eu também presidia o Diretório Acadêmico Cajupe, da Funepe, ao lado do Geraldo Malta. O país vivia a luta pela redemocratização com a campanha pelas Diretas Já. Como um bando de jovens loucos, fomos os primeiros a sair pelas ruas em passeata da Funepe até a praça Carlos Sampaio Filho, gritando Diretas Já numa corneta instalada num fusca velho.
Depois dessa ousadia o movimento ganhou corpo na cidade. E o sargento Dib conseguiu me manter de fora no auge dessa luta política na cidade de Penápolis, o comício das diretas realizado numa noite de domingo na praça. Me escalou para ficar de guarda.
Postado na frente do prédio do Tiro, de sentinela, ouvia o som forte dos discursos vindos da Praça Carlos Sampaio Filho e sentia, ao mesmo tempo, tristeza por não estar lá, no meio do povo, e uma grande alegria por ter ajudado a deflagrar aquela campanha na minha cidade.
(Publicado originalmente no Facebook em 25/01/12)
(Publicado originalmente no Facebook em 25/01/12)
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