segunda-feira, 30 de maio de 2016

Um calouro na redação

Do Diário para O Liberal
Minha decisão de recusar o trabalho na Rádio Clube de Americana não foi bem aceita pela minha família. Afinal, vivíamos em 1985 uma época difícil, de desemprego crescente, com mais de 77 milhões de brasileiros vivendo na miséria absoluta. Abrir mão de um bom emprego, com salário razoável, apenas pelo "capricho" de não abrir mão de convicções e da dignidade pessoal e profissional. Ninguém entendia.

Mas não me abati e fui batalhar outro emprego. Comprava as edições dominicais do O Liberal e selecionava nos classificados as possibilidades de trabalho. 

Não demorou. Na segunda de manhãzinha, com o anúncio classificado na mão fui até a Tarumã Confecções, na rua Major Rehder, em Americana. Quando cheguei na esquina quase desisti. Uma fila enorme disputava a vaga de auxiliar de expedição. Mas já que estava ali, fiquei e preenchi a ficha de número 121. 

No dia seguinte fui chamado para uma entrevista. O Antonio, um dos sócios da empresa, me questionou por que estava ali disputando uma vaga numa fábrica tendo formação superior. Expliquei que estava chegando a Americana e precisava trabalhar. Fui contratado. 

Entrava todos os dias às 7h30 e saía quando acabava o serviço, às 19h30, 20h, 21h, 22h, 23h... Só não fui bóia-fria porque as marmitas eram mantidas aquecidas em banho maria até a hora do almoço. Às vezes passava o dia todo ocioso, apenas ajeitando as peças nas prateleiras. De repente, lá pelas cinco da tarde começavam a chegar os pedidos. Aí o ritmo se tornava frenético: contar e separar o calções, bermudas e calças, esperar a conferência e depois empacotar a mercadoria para ser despachada. 

A Tarumã fornecia seus shorts para muitas lojas da capital, mas os principais clientes eram as lojas Mesbla e Mappin. Quando o trabalho passava das 20h nos providenciavam um lanche com guaraná e nesses dias quase sempre me chamavam para ajudar no escritório, no preenchimento de notas fiscais e duplicatas. 

Foram apenas três meses. Mas quando anunciei minha saída para trabalhar no Diário de Americana tentaram evitar fazendo uma proposta de melhoria salarial e de efetivação no escritório. Agradeci e fui para o Diário, onde fiquei aproximadamente seis meses. O trabalho ali desenvolvido me abriu as portas do O Liberal

Essa foto, em que apareço de boina para cobrir a careca provocada pelo trote na PUC, retrata o momento exato em que o Clemente Buoni me ligava na redação do Diário para avisar que eu deveria passar no final do expediente no O Liberal para conversar com o editor Ju Jensen. 

Trabalhar no O Liberal era o sonho de consumo de todo jornalista americanense naquela época. E pra mim tornou-se realidade.

(Publicado originalmente no Facebook em 04/03/12)

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