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Única para mim |
Com essa dedicatória inscrita na primeira página do livro Pequeno Príncipe, dirigi-me ao Jornal Interior, onde ela ainda trabalhava, naquela manhã de sábado, 14 de junho de 1986. Tinha viajado a noite toda, mas a ansiedade afastava todo o sono. A felicidade era imensa, o peito era pequeno para conter o coração, que batia disparado, de forma intensa.
A cada passo, mil idéias e lembranças povoavam minha cabeça. Lembrei do dia em que comecei a questionar minha relação com a Marilda, enfrentando a tormenta que se instalara em minha vida por não conseguir encará-la mais como apenas uma amiga especial, uma irmã. Foi no início de abril. Sentia algo muito maior que uma simples amizade, mas não queria admitir essa hipótese. Passou o aniversário da Juliana e ambos tivemos, na despedida, uma sensação de perda.
Passaram os dias, semanas... e a Marilda não me saía do pensamento. Convidado pelo Xavier, viajei a Lins em 17 de maio para participar de um encontro com o teólogo Clodovis Boff, à época um dos expoentes da Teologia da Libertação, ao lado de seu irmão Leonardo.
É claro que queria muito conhecer o Clodovis, beber de sua mística, saciar-me de sua rica experiência pastoral, mas o que me animou mesmo a viajar foi a possibilidade de esticar até Penápolis no domingo à noite.
E fui direto à casa da Marilda. Conversamos, matamos a saudade e, mais uma vez, fomos tomados pela estranha sensação de perda na hora da despedida.
Foi ela que encheu-se de coragem e tomou a iniciativa de revelar o que sentia, em carta que me enviou. Li e reli cada palavra, tropeçando nas vírgulas e pontos, o coração saltando pela boca, lágrimas de emoção escorrendo pela face, uma incontida alegria invadindo todo o meu ser.
E respondi na mesma hora a sua cartinha, revelando que tinha a mesma sensação e dizendo que tudo isso tinha apenas um nome: Amor. Só não sabia ainda em que proporção se manifestava tal amor que nos levava a uma sintonia de ideias, sentimentos, sensações e anseios. E dizia, também, da minha certeza de que um dia ainda conviveríamos juntos.
Cartas foram, vieram, se cruzaram pelos caminhos e em cada uma aumentava a certeza desse amor que teimava em crescer nas nossas vidas. Agora estava eu ali, entrando no jornal, prestes a me encontrar com a Marilda. Como seria nossa reação?
Entreguei-lhe o Pequeno Príncipe e senti sua emoção ao ler a dedicatória. Conversamos longamente ali mesmo no jornal, até o final do expediente. Depois, abraçadinhos, atravessamos a Vila Fátima e a Vila América até a casa do meu amigo Talo, onde estava hospedado.
Subi à sua casa após o almoço, passamos a tarde juntos e com a nossa princesinha Juliana. À noite, coube-nos pajear a sobrinha Aline, já que a Márcia saíra e deixara a filha com a avó. Mas isso não nos abateu. Embalei a Ju em meu colo, cantando para que dormisse, enquanto ela fazia o mesmo com a Aline.
Demorou. Devia ser quase onze da noite quando a Marilda finalmente saiu do quarto após colocar a Aline na cama. Eu, tímido e respeitador que era (aliás ainda sou), já estava de pé, à porta, com o agasalho na mão, pronto para ir embora. Ela me olhou e reclamou de pronto: "Tá pensando que vai me deixar aqui sozinha depois desse trabalhão todo? Nada disso!"
Então puxou-me pela mão e começamos ali, trocando muitos beijos, carinhos e confidências, nossa linda história de amor que já se aproxima dos 26 anos.
(Publicado originalmente no Facebook em 22/03/12)
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