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Marilda e Aderci |
Nas modestas instalações do jornal, a mesma sala servia de recepção, departamento comercial e redação. A mesma máquina de escrever era disputada por mim, pelo Luis Kettelut, pelo Irineu Gimenes e o Silas Reche de Freitas. O Marcos Jorge e o Célio de Oliveira geralmente traziam seus textos já datilografados que, após uma revisão do editor, seguiam para a composição nas linotipos. A revisão final era feita pela Célia Moçouçah que sempre tinha um bom astral.
Certa vez a Celinha chegou esbaforida no jornal, logo após o almoço: "João, ficou sabendo que dois porraloucas meteram o pau no jornal pela Rádio Difusora?" Gelei na hora. Mas logo me controlei e, pausadamente, respondi: "Célia, o porralouca, na verdade foi um só, eu, mas não tem essa história de meter o pau no jornal não".
E passei a narrar o ocorrido: na noite anterior tinha sido procurado na Funepe pelo Antonio Carlos Duarte de Carvalho, que estava trabalhando como repórter na Difusora. Estava indignado porque tinha sido escalado para repercutir junto à população um crime bárbaro que tinha acontecido um ou dois dias antes: matricídio seguido de suicídio.
A Difusora, como qualquer veículo de comunicação que a gente conhece hoje, estava explorando exaustivamente a tragédia. Então eu disse ao Carlão: "se você quiser, posso comentar essa situação, como presidente do Diretório Acadêmico".
De imediato ele ligou o gravador e eu passei a desancar a atitude oportunista e sensacionalista da Difusora. Disse achar estranho que outras violências do cotidiano, tão ou mais graves que aquela tragédia, como o salário mínimo miserável, o desemprego e os crimes da ditadura militar, não merecessem a atenção da emissora. E arrematava condenando os abutres que querem lucrar com a dor alheia.
Por obra do acaso ou mesmo por desatenção do Marcos Jorge, que comandava o programa na Difusora, a entrevista foi ao ar, deu o maior rebu e o Carlão acabou demitido.
Mas retomando o início do causo, acabei me sentando por um longo tempo na mesa ao lado da séria e eficiente secretária do Interior, a Marilda Barbosa da Silva. Aos poucos ela foi superando aquela primeira impressão, deixou de me achar irresponsável e nos tornamos grandes amigos. Talvez os melhores amigos um do outro.
Trocávamos confidências, ouvíamos as queixas e problemas mútuos, partilhávamos as alegrias. Amizade sincera e verdadeira.
A afinidade era tanta que a Lúcia Moçoucah, nossa patroa, às vezes se sentava na ponta da mesa e nos dizia: "Marilda, você não pode se casar com o Gilson nem você, João, com a Rosana. Vocês combinam muito bem, parece que foram feitos um para o outro".
Ríamos muito desse "devaneio" da Lúcia que, mais tarde, revelou-se premonição. Mas tudo tem sua hora, seu lugar, sua razão de ser.
(Publicado originalmente no Facebook em 23/02/12)
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