A capela era o local de encontro de todos que moravam no bairro. O padre vinha rezar a missa uma vez por mês, às vezes vinha um ministro da Palavra fazer uma celebração. Mas não passava uma semana sem que o povo se reunisse para a reza do terço. Sinal de fé e devoção, mas também pretexto para o encontro, a partilha da caminhada.
Para juntar o povo na capela bastava alguém tocar o sino. Logo todos acorriam para lá.
Era também o espaço de lazer. O campo de bocha, o pátio para as brincadeiras da meninada. O coreto virava palanque quando tinha eleição. E de vez em quando, na gestão do saudoso prefeito Nagib Sabino, tinha projeção de filmes, cinema à luz do luar.
Foi nessa capela que fiz minha primeira comunhão no dia 21 de setembro de 1974. Fui preparado em casa mesmo, pelas minhas irmãs Ana e Maria, pois naquele ano não tinha nenhum grupo de catequese na capela. Estudava as perguntas e respostas num velho catecismo pré-Vaticano II.
No dia da festa da padroeira (até hoje não sei porque era comemorado em setembro), minha mãe conversou com o frei Marcelino Correr, o mesmo que me batizou e que mais tarde se tornaria dom frei Marcelino - bispo de Carolina/MA, e pediu a ele que me deixasse fazer a primeira comunhão. Ele me chamou ao confessionário, fez algumas perguntas, deu a absolvição e, assim, naquela manhã de domingo, me tornei participante do sacramento da Eucaristia.
Após a missa, quase meio dia, com o sol a pino, sai a procissão em louvor a Nossa Senhora Aparecida. Não fui. Fiquei na capela esperando, radiante de alegria.
Retornei à capela poucas vezes depois que nos mudamos do Córrego Grande: numa festa, acompanhando o saudoso frei Antonio Milani, nesse dia retratado na foto, quando levei meus pais e meus filhos para uma visita ao chão de minha infância e, mais recentemente, em 2008, acompanhando o prefeito Joaoluis Santos na reunião do Orçamento Participativo.
Lembrar da religiosidade do povo caipira do sítio é lembrar também das festas juninas, a reza do terço com ladainha e tudo, a fogueira, os rojões, traques e buscapés... E o melhor de tudo: o delicioso chocolate quente que minha mãe preparava como ninguém, só com água, e que era servido ao final do terço. Inesquecível.
(Publicado originalmente no Facebook em 03/11/11)
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