terça-feira, 12 de abril de 2016

A primeira escola


Na "escadaria" da minha primeira escola
Foi muito grande a ansiedade para o meu primeiro dia na escola. Não pelos colegas, que eu já conhecia todos, nem pelo aprendizado em si, pois já cheguei à escola lendo e escrevendo. 
Ansiedade sobretudo pela professora, dona Terezinha. 

Ela já lecionava há vários anos na Escola Agrupada do Bairro Córrego Grande e sua fama era de professora linha dura, que não tolerava nenhuma forma de indisciplina. 

A escola consistia em apenas uma sala de aula, onde funcionavam classes multisseriadas, 3º e 4º anos de manhã e 1º e 2º anos à tarde. Carteiras antigas de madeiras, daquelas que têm o assento grudado na carteira de trás, com uma ranhura para colocar o lápis e a caneta e o reservatório de tinta para molhar a pena. Janelas grandes de apenas uma folha de madeira, de ambos os lados da sala. A lousa dividida ao meio, metade para cada turma. 

Dona Terezinha realmente metia medo na criançada. Diziam que se alguém conversasse fora de hora ela atirava o apagador e que tinha ótima pontaria. Nunca me arrisquei a conferir. De tanto medo, copiava logo a lição do 1º ano e, sem perguntar nada, emendava com a lição do 2º ano. 

Logo veio a cartilha Caminho Suave com cheirinho de papel novo e tinta fresca. Esse cheiro, aliás, está gravado em minha mente. Basta sentir cheiro de livro novo que me lembro na hora da Caminho Suave. Como já lia e escrevia sem dificuldade, fui adiantando as lições e bem logo terminei a Cartilha. Veio então o livro, que logo também acabou. 

No início do segundo semestre dona Terezinha chamou minha mãe e disse que me passaria para o 2º ano. E assim foi feito. Quando, em outubro, tive catapora e fiquei quinze dias de molho, minha mãe deu graças a Deus, achando que assim repetiria no segundo ano e teria a oportunidade de fazê-lo novamente no ano seguinte. 

Ledo engano. Passei para o terceiro ano entre os melhores da turma e, assim, ganhei um ano na escola. Só tive dificuldades ao terminar o então primeiro grau, pois o 1º ano não aparecia no histórico escolar e não queriam aceitar minha matrícula no colegial. 

Minha primeira escola já não existe mais. Foi derrubada para dar lugar a uma ampliação do salão de festas da capela Nossa Senhora Aparecida. Mas tive a felicidade de revê-la e de levar meus filhos para conhecê-la antes de sua demolição. 

Outra felicidade: em meados de 2007, numa noite de sexta-feira fui com a Marilda e os meninos à Pizzaria do Batata. Nos sentamos numa das mesas da varanda e fiquei observando uma senhora bem idosa que estava numa mesa próxima. Encorajado pela Marilda me aproximei dela, cumprimentei-a e perguntei se se lembrava de mim. Ela me encarou com aquele olhar sério e, ao mesmo tempo, sereno, sorriu e respondeu: “como poderia esquecer de meu melhor aluno do Córrego Grande?”

Foi a última vez que vi dona Terezinha Vitali, minha primeira e inesquecível professora. Não sei se continua viva, mas tenho certeza de que sua personalidade forte e sua competência profissional jamais morrerão nas mentes e corações dos que foram seus alunos. Obrigado, dona Terezinha!

(Publicado originalmente no Facebook em 27/10/11)

PS: Dona Terezinha se foi. Estava em seus últimos dias nesse mundo, lutando contra um câncer, quando escrevi esse causo. Continuará inesquecível, minha primeira professora.

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