sábado, 9 de abril de 2016

Santa Casa, casa santa

Alguém pode estar se perguntando: o que a foto de um hospital faz no álbum de alguém que tem aversão a remédios, à medicina oficial e a hospitais?

Mas este não é um hospital qualquer. É a Santa Casa de Penápolis, em cuja maternidade nasci no dia 2 de julho de 1965. Um privilégio numa época em que a maioria das crianças nascia em casa mesmo, com a ajuda das parteiras.

Santa Casa, casa santa, local sagrado, de chegada à vida e de partida para a outra vida. Quando ali nasci, o hospital era administrado pela Irmandade de Misericórdia e contava com o trabalho das irmãs franciscanas do Coração de Maria.

Durante décadas foi o único hospital da comarca de Penápolis. Com o surgimento de outras unidades, em especial os particulares, houve um progressivo sucateamento da Santa Casa para favorecer os mercadores da doença.

Em 2004 o prédio foi a leilão, em função da dívida milionária acumulada em alguns anos de gestão criminosa. Felizmente ninguém arrematou o prédio. Naquele ano meu amigo Joao Luis dos Santos venceu as eleições municipais, assumiu a Prefeitura em janeiro de 2005 e iniciou um processo de recuperação do hospital, tanto do ponto de vista financeiro quanto da qualidade do atendimento prestado.

Naquele momento inicial coube à Claudia Slavez, nutricionista da Santa Casa, assumir a superintendência e tomar medidas enérgicas para reverter o caos. Foi sucedida depois pelo Roberto Torsiano que fez avançar o processo, sempre com o apoio do prefeito João Luís e da Irmandade, presidida à época pelo Waldir Ruffato, pai da minha amiga professora Adriana Lacava Ruffato Soliani.

Vivi um fato curioso na Santa Casa: logo no início de 2005, na condição de secretário de comunicação do município, fui até o hospital para uma reunião com a Cláudia. Tendo passado 19 anos fora de Penápolis, ainda não era reconhecido pelas pessoas. Na recepção, sem me identificar, pedi para falar com a superintendente. "Ela não pode atender, está ocupada", foi a resposta. 

Agradeci, pedi que lhe transmitissem o recado que o João Martins a procurara. Nesse momento a moça da recepção me encarou e perguntou: "Você é o João Martins? Puxa, me desculpe, pode entrar..." E me conduziu à sala da Cláudia.

Comecei a sentir ali, naqueles corredores, a hipocrisia que ainda permeia as relações sociais numa cidade interiorana, onde se bajula quem está investido de alguma "autoridade" e se ignora completamente os "simples mortais". Isso foi o que mais me incomodou no período em que fiz parte da assessoria do prefeito.

(Publicado originalmente no Facebook em 19/10/11)

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