quinta-feira, 21 de abril de 2016

Paixão pela política

Dias atrás, no aniversário de 80 anos de minha tia Nena, meu tio João Gallo questionou se ainda estou envolvido em política. Antes que eu respondesse ele acrescentou: "seu pai sempre se queixava de você ter militância política, mas ele também era um apaixonado por ela".

Pura verdade. Aprendi a gostar de política com meu pai. Nas eleições municipais de 1972, morávamos no bairro Córrego Grande, a cerca de 10 quilômetros da cidade, mas não perdíamos um comício sequer.

Após um dia cansativo de trabalho na roça, meu pai colocava toda a família no velho Candango DKV, igual a este da foto, e partia para a cidade para acompanhar os comícios dos dois candidatos a prefeito.

Vivíamos a época do bipartidarismo implantado pela ditadura militar, mas não eram nem Arena nem MDB que disputavam o voto dos eleitores. O que importava era o candidato. De um lado Nagib Sabino, um alfaiate que já fora vereador e prefeito nos anos 60. De outro o engenheiro Edson Geraissate, também ex-prefeito.

Mais do que propostas de governo, valiam as acusações mútuas. O grupo político de Geraissate menosprezava Sabino por não ter formação universitária e por falar a linguagem simples do povo, tropeçando na gramática. Isso, para os partidários do engenheiro, era sinal de despreparo para o cargo de prefeito.

Já os nagibistas devolviam com acusações mais graves, colocando em dúvida o rápido enriquecimento de Edson que coincidiu com sua passagem pela Prefeitura. De funcionário público do DER transformou-se em empresário.

Era assim a campanha política. Meu pai, embora nagibista, também ia nos comícios do Edson, para ver o movimento. E discutir o processo eleitoral com conhecidos, fossem partidários ou adversários.

No final das contas, o alfaiate ganhou a eleição e o engenheiro parece que até hoje não assimilou muito bem essa derrota. Nem se aventurou mais a disputar a Prefeitura, talvez com receio de novo vexame. Mas isso não vem ao caso.

O posicionamento político de meu pai, nessa época, era meio ambíguo. Votou na Arena de Nagib Sabino, mas também defendeu a eleição de Orestes Quércia (MDB) para o Senado, em 1974. Me recordo de um dia em que estávamos na Casa Verde, mais conhecida como Loja do Turquinho, que ficava bem no começo da rua Altino Vaz de Melo.

Minha mãe estava na loja escolhendo tecidos e meu pai conversava com o Turquinho na calçada. O assunto: política. De dentro do Candango ouvi dele uma frase que ficou gravada em minha mente: "estamos vivendo uma ditadura disfarçada. Precisamos eleger esse moço, o Quércia". Eu nem sabia o que era ditadura nem porque ela precisava se disfarçar, mas o Quércia eu já tinha visto num cartaz de campanha, colado na porta da casa do Augusto Porte, nosso vizinho de sítio.

Na eleição de 1976 já morávamos na cidade e meu pai cedeu a frente de nossa casa para um comício do Washington Paula Pereira e os candidatos a vereador, dentre eles o professor João Segura, que era o apresentador oficial dos comícios e, naquela noite, jantou em nossa casa.

Na mercearia, a discussão era apaixonada em defesa dos candidatos e acusações contra os adversários. Nessa eleição venceu Ricardo Castilho, pelo MDB. Foi a vitória do "Paz e Amor" (dedos médio e indicador abertos em V) contra o "Jóia" (sinal de positivo com o polegar erguido e os demais dedos fechados". Daí para frente comecei a ver a política com outros olhos e a pensá-la com minha própria cabeça.

(Publicado originalmente no Facebook em 19/12/11)

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