segunda-feira, 18 de abril de 2016

Salto do Avanhandava

O clima era de ansiosa desconfiança. Afinal, que novidade era essa de reunir os pais dos alunos na escola? Isso nunca tinha acontecido antes. Chega, finalmente, a professora. Era a Bete Oberg.

Mas a reunião foi tranquila, nada de cobranças nem de reclamações dos alunos. O que a professora queria era propôr um passeio ou, como se diz hoje, uma "saída pedagógica". E com direito à participação das famílias para ajudar a levar e acompanhar as crianças. O local escolhido: Salto do Avanhandava.

A euforia tomou conta de todos. O passeio se tornou o assunto preferido até que chegou o grande dia. Quem tinha carro deu carona para quem não tinha e, assim, todos os alunos foram para lá.

A paisagem que encontramos no Salto era deslumbrante. A enorme cachoeira, a correnteza das águas, a ponte pênsil que conduzia até a ilha, onde estava localizado o restaurante. Aí que estava o problema, a ponte pênsil. Dava frio na barriga só de olhar. Imagine, então, atravessar aquela estreita ponte sustentada por cabos de aço que balançava na medida em que as pessoas avançavam rumo à ilha.

Foi minha mãe que tomou coragem e revelou o medo de atravessar. "Nessa ponte eu não passo, fico aqui deste lado mesmo", disse ela taxativa. E eu, solidário no medo, acrescentei: "também fico aqui".

Foi assim que vi o Salto do Avanhandava pela primeira e única vez. E, graças ao medo, não pude registrar a sensação de atravessar a ponte pênsil e chegar até a pequena ilha. Alguns anos mais tarde, mais precisamente em dezembro de 1982, o Salto do Avanhandava, a ilha e a ponte pênsil desapareceram definitivamente sob as águas da represa da Usina Nova Avanhandava.

Restaram apenas as lembranças. Doces lembranças.

(Publicado originalmente no Facebook em 17/11/11)

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