sábado, 9 de abril de 2016

O primeiro porre


Não sei a data em que foi tirada esta foto, mas certamente era dia de festa, talvez Natal ou Ano Novo. Basta ver o garrafão de vinho e as garrafas de guaraná sobre a mesa. Isso só acontecia uma vez por ano.

Como o sítio ficava a dez quilômetros da cidade e não havia energia elétrica, o guaraná era tomado quente mesmo. Às vezes, quando ía à cidade no fim de semana para fazer compras, meu pai trazia gelo num isopor. Nessas ocasiões tomávamos ki-suco ou outro refresco geladinho. 

Mas no Natal não tinha jeito, o guaraná era sem gelo mesmo. E como era gostoso esse guaraná. Meu irmão Joaquim sempre diz que foi o melhor guaraná de sua vida.

Era produzido em Penápolis mesmo, numa fábrica que ficava ali na rua Irmãos Chrisóstomo de Oliveira. O vinho também só vinha nas festas de final e início de ano.

Quando eu tinha seis anos, enquanto todos se confraternizavam após o almoço de Natal, eu fui escondido várias vezes até o garrafão de vinho e, assim, de golinho em golinho, acabei ficando bem “alegre”. Tão alegre que fui ao terreiro de café que ficava ao lado da casa e ali rodava, rodava e ria sem parar. Gargalhava e ninguém entendia o que estava acontecendo. Nem imaginavam a razão de tanta alegria. 
E foi assim, sorrindo, que curti meu primeiro (e único) porre. 

Voltando à foto, algumas descrições: o retângulo preto acima da cabeça do meu irmão Camilo era uma lousa pintada na parede com tinta a óleo. O giz escorregava e não escrevia nada, mas tendo a lousa, era proibido escrever de carvão nas paredes da casa.

Acima da porta que dava acesso à sala dá pra ver o lampião que iluminava nossas noites. Pra fazer as lições da escola era insuficiente, então tínhamos que colocar uma lamparina ao lado do caderno.

A janela que aparece aberta, ao fundo, dava acesso ao meu quarto, onde eu dormia numa cama de casal, junto com o Camilo. E a cesta guardava os ovos recolhidos do nosso galinheiro. No alto, ficavam a salvo dos gatos e outros “ladrões” de ovos. Tia Fátima, mais uma vez obrigado pela foto. Ela me levou de volta àqueles dias felizes da minha infância no Córrego Grande.

(Publicado originalmente no Facebook em 22/10/11)

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