quinta-feira, 21 de abril de 2016

Médico altruísta e político

Palacete dos Sabino
A quitanda da tia Rosa era a última parada antes de irmos para o sítio. Uma quitandinha pequena, ao lado de sua casa, na Rua Brasil, vila Martins. Mas tinha uma vitrine de doces que me deixava com água na boca. Ficava ali na frente, boquiaberto, admirando aquelas guloseimas.

Meu pai até que ofereceu, mas ecoava forte a recomendação de minha mãe de nunca aceitar nada na primeira vez que nos oferecessem. Era falta de educação. Criança educada recusava e só aceitava se insistissem em oferecer algo para comer. Como meu pai ofereceu apenas uma vez, fiquei sem o doce.

O resultado foi uma baita febre no meio da noite que obrigou meus pais a saírem do sítio de madrugada para me levarem ao médico. Pelo que consigo me lembrar, foi minha única visita ao médico em toda a infância.

Dr. Mário Sabino nos atendeu de pijama, na escadaria da mansão da família, exatamente nessa porta em que apareço na foto. Magro, alto, olhar sério... Me examinou e perguntou aos meus pais: "esse menino passou vontade de alguma coisa?" Assim, rápido e sem recurso a nenhum exame sofisticado, veio o diagnóstico. A febre era resultado de um desejo não atendido. E no lugar dos remédios, os doces da quitanda de minha tia Rosa.

Dr. Mário Sabino não mereceu a confiança de meus pais apenas no exercício de sua profissão. Sua disponibilidade e desprendimento conquistou também o voto dos dois, na sua eleição para vereador em 1972.

Com o tempo aprendi que certo mesmo era meu irmão Camilo. Ele também seguia à risca a recomendação de minha mãe, mas com uma sutil diferença. Quando lhe ofereciam algo, estendia a mão, aceitando de imediato, enquanto dizia: "não precisa, não!"

(Publicado originalmente no Facebook em 10/12/11)

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