quinta-feira, 21 de abril de 2016

Trabalhos e empregos

Atrás desse balcão de madeira, onde meus pais aparecem na foto, tive o meu primeiro trabalho na cidade. Trabalho e não emprego, como bem diferenciava meu pai.

Era a mercearia Nossa Senhora Aparecida, bem na esquina da Rua Maranhão com a Rua Goiás, na Vila América, ou simplesmente a "venda do tio Annibal", como os primos se referiam. O Camilo também trabalhou ali, mas na época dessa foto já estava morando em Americana.

Minha rotina começava às sete e meia da manhã, quando meu pai me acordava para abrir a venda. Varria o chão, lavava todos os copos, organizava as prateleiras repondo mercadorias e aguardava a freguesia. Cuidava das notas fiscais de entrada e saída e controlava as contas bancárias do meu pai, verificando os cheques emitidos e depositando os valores necessários nos bancos Banespa e Bandeirantes, que ficava ali na rua São Francisco.

Meu pai cuidava das compras, atendendo aos viajantes. Quando chegava alguém, eu batia forte na parede que fazia divisa com a casa e ele logo vinha atender. Foi assim até que a parede começou a descascar de tanta batida. A saída foi colocar uma campainha que tocava dentro de casa avisando que se fazia necessária a presença de meu pai na mercearia.

Sobre esses balcões eu estudava e fazia as tarefas de casa. Por volta das duas horas da tarde chamava meu pai, vestia o uniforme e ia para a escola, a Casa da Amizade.

Mesmo ajudando na mercearia, tive várias outras ocupações nesse tempo. Com uma cesta saí vendendo coxinhas na rua, até o dia em que um moço de bicicleta me parou na avenida Adolfo Hecht, próximo ao supermercado Shinkai, comeu vários salgados e fugiu sem pagar. Tentei correr atrás, segurar a bicicleta, mas não consegui. E desisti do negócio.

Também fui sorveteiro. Todas as manhãs ía até a sorveteria Skineve e pegava um carrinho cheio de picolés e percorria as ruas da Vila América a Vila Fátima. Passava bem devagar na frente das casas onde sabia que havia crianças e ficava assoprando um apito até que alguém saísse para comprar o sorvete. No final da tarde devolvia o carrinho, pagava pelos sorvetes vendidos e recebia minha comissão.

Todo o dinheirinho que entrava era entregue para minha mãe, que se encarregava de atender nossas necessidades de roupas e calçados. Também ajudei minha mãe num outro trabalho, que consistia em limpar com benzina cintas elásticas de uma fábrica localizada na vila Tóquio. Buscava de manhã e devolvia limpas na manhã seguinte. Servicinho chato e cansativo, mas rendia mais que os sorvetes, com a vantagem que o serviço era feito dentro de casa.

Por um tempo também trabalhei nos finais de semana na lanchonete Biroska, dos meus cunhados Jesus e Moisés, na esquina do edifício Adília. Aos sábados e domingos servia lanches e bebidas, nas mesas e no balcão, das sete da noite até quatro ou cinco da madrugada. Lá pelas duas da madruga o Jesus me preparava um misto quente, que eu saboreava junto com um guaraná.

Só não fui engraxate porque não tinha uma caixa apropriada, mas engraxava e dava lustro nos sapatos de todos em casa.

Trabalho foi uma constante na minha vida desde a infância e a adolescência, ainda que de forma precária. Emprego mesmo, com carteira assinada, só fui ter aos 17 anos, na Jojoca, a loja de autopeças de meu tio José Martins. Ali atendia a clientela, cuidava da limpeza e organização do estoque e, de bicicleta, cruzava a cidade fazendo cobranças.

A faculdade é que me abriu novas oportunidades profissionais. Mas isso já é um outro causo.

(Publicado originalmente no Facebook em 14/12/11)

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