sábado, 9 de abril de 2016

Hora da refeição


Família reunida à mesa, na hora do jantar. Essa cena tão incomum nos dias atuais era sagrada na minha infância. E como era prazeroso esse momento de partilha.

A cabeceira da mesa era o lugar sempre reservado ao meu pai. E eu me sentava sempre à sua esquerda. Assim como ele, eu adorava cortar fatias bem finas de queijo fresco, colocava-as no prato e cobria com o feijão quente. O queijo derretia e ficava uma delícia. Comíamos um queijo inteiro todos os dias. 

Não havia fartura, mas Deus nos proporcionava, através do trabalho da família, o necessário para nosso sustento: o arroz, o feijão e as hortaliças, tudo produzido no nosso sítio, assim como o queijo que minha mãe fazia com o leite retirado das nossas duas vaquinhas.

Aos domingos, ou quando vinha uma visita, minha mãe preparava um frango. Ela escolhia no galinheiro e nós, cheios de alegria, corríamos atrás até pegar. Mas quando tinha visita, a recomendação de minha mãe era clara: "deixem as visitas se servirem primeiro, nunca sejam 'entrões' pois isso é falta de educação".

Mesmo não concordando, sempre acatamos essa ordem. Assim, as visitas se deliciavam com as partes melhores, como a coxa, sobrecoxa e peito do frango, e nós tínhamos que nos contentar com o pé, a asa, o pescoço ou a costela. Quando a situação era inversa, ou seja, quando nós éramos visita na casa de alguém, lá vinha a recomendação de mãe novamente: "é falta de educação servir-se primeiro".

Dessa forma, enquanto os "mal educados" comiam as partes boas, na nossa casa e na deles, nossa boa educação nos premiava com os pedaços mais cheios... de ossos!

Mas éramos felizes assim, basta ver o sorriso e a expressão de alegria nos rostos de cada um dos irmãos. Essa e a próxima foto talvez sejam as únicas que registraram um jantar da família no bairro Córrego Grande, para onde nos mudamos em 1970 e de onde saímos em 1976. Obrigado, tia Fatima Rodrigues Gallo, por me presentear com essa recordação.

(Publicado originalmente no Facebook em 22/10/11)

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